quinta-feira, 31 de março de 2011





















Saia do Quadrado.


Texto:

O seu ângulo perfeito não precisa ser milimetricamente igual.

Panamericana - Escola dos que não pensam quadrado.


Redação:
Zoé Pares
Arte : Diogo Siqueira diogosiqueira.carbonmade.com
Para: Escola Panamericana


quarta-feira, 30 de março de 2011

Despercebidos

Ei você aí, é você mesmo, achou que ia passar despercebido?

Eu sei que foi você que torrou o volante do meu carro.
Que encharcou as minhas pernas, minha testa e até de baixo do braço.
Reparei quando tentou me cegar os olhos.
E sem sombra de dúvidas quis queimar e manchar a minha pele.
Eu sei que foi você que me deixou quase com febre.

Ei você aí, é você mesmo, achou que ia passar despercebido?
Eu sei que foi você que me amarrou na cama domingo.
Que me perseguiu correndo nas ruas e adorou me ver caindo.
Não duvido que foi você que me obrigou a torcer as meias.
Reparei quando você afogou o meu jardim.
Eu tenho provas que foi você que me deixou doente assim.

Ei você aí, é você mesmo, achou que ia passar despercebido?
Eu sei que foi você que me deixou arrepiada.
Que estragou meu penteado e me deixou descabelada.
Reparei quando você tentou arrombar minha janela.
Arrancou meu Guarda-Sol e fugiu com a minha toalha de praia.
Eu percebi que foi você que levantou a minha saia.

Hoje o Sol não raiou, e eu percebi .
A chuva não molhou, e eu percebi.
O ventou não soprou, e eu também percebi .

Ei vocês aí, vocês mesmos, acharam que iam passar despercebidos?

sexta-feira, 25 de março de 2011

Águas de Março

Ainda que quando pequena eu ficasse apavorada com aquelas ondas de 2 metros, na minha opinião verdadeiros tsunamis, que me faziam segurar a areia e a respiração até que pudesse sentir minha cabeça parar de borbulhar, ou seja, sinônimo de barra limpa, você já pode levantar, respirar, e descer de novo porque a próxima onda já esta vindo, mas eu nasci e cresci ouvindo músicas, poemas, poesias e declarações de amor que sempre me induziram a pensar o contrario do que eu sempre senti (Medo).

Alguém alguma vez na vida já ouviu alguma música dizendo, ahhh o mar, que me afogou e que quase me matou?? Ahhh o mar que para o buraco me arrastou e que minha câimbra aguçou??? ...Pois é ... eu também não. Agora, quantas inúmeras músicas não se ouvem falando do belo mar, calmo, limpo e sereno?? Por exemplo : “Ver na vida algum motivo pra sonhar ,ter um sonho todo azul,azul da cor do mar” – Tim Maia , ou “Quando eu mergulhei no azul do mar , sabia que era amor,e vinha pra ficar...” – Roupa Nova - Enfim, completamente sedutor e induzível ao pensamento de que o mar é tão calmo e relaxante quanto ou mais que um ano de massagem grátis nos pés.

Mas então que me pego pensando, naquelas tais águas de março de Tom Jobim, tão diferentes e opostas as águas de março que hoje vejo com olhos arregalados, o pavor e agonia do povo dos olhos puxados.

As águas de março, mais precisamente, 11 de março de 2011, destruíram cerca de 18.000 habitações e danificaram outras 130.000, as águas de março cresceram , cresceram tanto que tomaram forma de quase 10 metros de altura, carregaram, levaram e apagaram média de 10 mil pessoas, as águas de março ficaram tão furiosas que alavancou uma crise nuclear e uma despesa que pode chegar a alcançar 16 trilhões de ienes.

Hoje acordei achando que o outro lado do mundo estava ralando na minha janela, senti como se meus olhos quisessem permanecer bem pequenininhos para que não precisasse enxergar a realidade, senti que o Ohachi* estava precisando de elástico duplo para segura-lo de pé pois tudo parecia estar desmoronando.

*Ohachi = são os famosos palitinhos japoneses, que se usa para comer.


Zoé Pares